Podemos dizer que é uma forma de Agricultura que visa integrar os saberes e sistematizar as às culturas que possuem importância agronômica em conjunto com espécies que integram a floresta, formando um consórcio de plantas que criam e são criadas umas pelas outras, numa relação mutualística, através disso, é possível produzir alimentos e matéria prima de uma forma mais ecológica e sustentável, em equilíbrio com os princípios da vida, até porque, ainda por cima promove a recuperação de áreas degradadas, tanto sua vegetação, quanto o seu solo.
Os Sistemas Florestais são classificados em 3 tipos: Os Silviagricolas, que são caracterizados pela mescla entre produção agrícola e espécies de plantas encontradas na selva; Os Silvipastoris, que são um consórcio entre criação animal e as renomadas plantas da selva; E os Silviagricolapastoris, que são uma junção dos dois anteriores, contemplando tanto as plantas da selva, quanto a produção agrícola e a criação animal. Este último sistema em muitos casos mais indicado, por fornecer adubo e trazer uma maior autonomia e circularidade dos processos, mas todos são válidos e a implementação de algum desses sistemas depende das particularidades do local e dos recursos disponíveis.
Podemos elencar para esse tipo de sistema alguns princípios gerais, que buscam estar alinhados com as leis naturais da terra e da formação das florestas, como por exemplo:
A visão ecológica, que diz respeito a “sair do pedestal” e parar para ter uma visão mais Ecológica e menos Egoísta, tentando olhar o mundo a partir de uma visão mais integrada e retirando o Ser Humano do lugar do mais forte da cadeia alimentar para um ser que está coabitando o mundo com os demais.
Otimizar a fotossíntese, dizem por aí que a agricultura é a “arte de colher o sol”, e isso é basicamente utilizar a luz solar da melhor forma, valorizando-a.
A cobertura vegetal, essencial para o sistema e cobrir o solo é manter ele saudável, mais úmido, com mais vida e menos exposição a luz direta do sol, à compactação do solo e a lixiviação, através de fortes chuva, além de fornecer nutrientes às plantas e aos micro-organismos no processo de decomposição, alimentando a micro e a macrobiota do solo.
A diversidade, que consiste em plantar muitas espécies e variedades diferentes na mesma área; A densidade, que consiste em plantar muito, de cada uma das diversas espécies, no mesmo local; A sucessão ecológica, que é responsável por determinar o momento que cada cultura vai ocupar nas diversas fases do plantio.
A estratificação, que é basicamente o estrato, ou local, que cada planta prefere ocupar, tendo como referência os estratos alto, médio e baixo, que correspondem respectivamente às plantas que preferem mais sol, médio sol e sombra.
A abundância, que nos tira da perspectiva da escassez e da competição, para a perspectiva da fartura e da cooperação, e no meio disso, nos ajuda a trabalhar com o desapego no meio do processo do manejo, ao escolher priorizar alguma espécie em detrimento de outra, que já cumpriu sua missão no sistema.
E por último mas não menos importante, a valorização dos saberes tradicionais, ou seja, dos saberes milenares e ancestrais, que é um forte pilar, até porque, os Sistemas Agroflorestais visam reproduzir a forma em que as comunidades indígenas, se relacionam com a selva e com a agricultura, sem impactar negativamente o solo e utilizando o mesmo espaço para plantio por muitos anos, o que também é visto muitas vezes em comunidades de fundo de pasto, povos ribeirinhos e quilombolas, o que nos leva a pensar que a busca por esse tipo de sistema é a busca de honrar a memória e os esforços desses povos e comunidades.
O planejamento para a implementação desse sistema é essencial para que haja êxito e/ou um melhor rendimento na produção, diante disso, alguns fatores são importantes de serem levados em consideração, como o local em que vai ser implantado, se trata de uma planície, de um planalto, de um lugar próximo ao litoral, ou numa região com maior altitude, analisar essas questões nos dará um panorama de quais espécies plantar e quais vão ficar melhor adaptadas.
A preparação do solo também é de extrema importância, é aconselhável realizar um estudo do solo para saber melhor quais são as suas condições, se ele está muito ácido, se precisa de correção, se está com carência de nutrientes e quais seriam eles, além claro, de realizar a descompactação antes de qualquer plantio.
Os insumos, que através de fertilizantes orgânicos, trazem mais nutrientes pro solo, podendo ser utilizados para auxiliar no processo de recuperação do solo e, na maioria desses sistemas, dar um “empurrãozinho” nos estágios iniciais, sendo algo que ao poucos vai perdendo a necessidade e portanto, a aplicação, inclusive, há um tipo de agricultura chamada de Agricultura Sintrópica que busca utilizar o mínimo possível, substituindo esse processo pela utilização de galhos, capim e folhas secas, além de podas.
O clima, se é bem definidas as estações ou não, qual o período de chuva, quais os períodos de seca, o que irá nos trazer um panorama de quais espécies poderão prevalecer com mais facilidade diante das mudanças climáticas e das intempéries.
O consórcio de espécies, que seria basicamente quais são as espécies que iremos plantar em conjunto e quais delas podem ser benéficas pro solo e umas pra as outras, se plantadas juntas, como o exemplo clássico de consórcio entre milho, feijão e abóbora. O espaçamento está intimamente ligado ao consórcio de espécies, uma vez que é caracterizado como o melhor espaço vigente entre a implementação de uma cultura e outra, o que requer um certo conhecimento prévio sobre as características de cada espécie em questão, para organizar melhor o plantio, algumas pessoas optam por realizar o “croqui”, que seria um esboço de qual espaçamento utilizar entre as leiras e entre uma cultura e outra. A partir disso, podemos ter a priorização da produção de uma ou algumas espécies em detrimento das demais, visando um retorno que pode ser tanto de subsistência, quanto financeiro.
A irrigação vai ser literalmente um divisor de águas no sucesso da implementação do sistema, facilitando muito sua implementação, diante disso é importante analisar dois fatores, a disponibilidade da água para a irrigação e a pressão que essa água chega até o sistema. É preciso bastante pressão para fazer um sistema de irrigação eficiente, porém, vale ressaltar que nem sempre fazem uso ou há esse recurso disponível e em abundância, o que leva alguns agricultores a realizar seus plantios conforme as leis naturais, esperando a época de chuva para o plantio e investindo bastante nas podas e na cobertura do solo.
A produção de mudas é uma peça chave quando falamos em Sistemas Agroflorestais, até porque, investindo nelas, estaremos investindo em diversidade e densidade, o que nos trará abundância. Portanto, um viveiro ou mudário é um importante local para garantir segurança para as plantas no seu estágio inicial de vida, o ideal é que seja espaços cobertos e “vedados” por sombrite, o que vai promover um ambiente mais ameno e sem a interferência de insetos e pragas. No viveiro, podemos realizar o controle de viabilidade das sementes, a germinação e o processo de propagação vegetativa através das estaquias.
A criação de parcerias e o apoio comunitário são essenciais nessa etapa de produção de mudas, viabilizando troca de informação genética e aquisição de novas espécies, diversificando o cultivo e fortalecendo as relações.
Um dos desafios atuais para a implementação de grandes sistemas desse tipo visando a produção é a maquinaria utilizada, mas em pequenos sistemas é muito indicado, para facilitar alguns processos, o auxílio de uma roçadeira, de uma trituradora de folhas e galos, e de uma serra elétrica, além de outras ferramentas manuais, como enxada, facão, tesoura de poda, serra de mão, cavador e a picareta.
É importante ter uma mínima compreensão fisiológica para saber o que a planta está pedindo, ou seja, a linguagem que ela está tentando utilizar pra se comunicar com você sobre o que ela precisa pra melhor se desenvolver. O que está intimamente relacionado com o momento da poda, quando, por exemplo, as plantas pedem mais luz e uma abertura pra elas ocuparem o melhor lugar pra elas diante da estratificação e da sucessão de espécies, e o que também está relacionado à disposição de nutrientes do solo. As estações do ano também vão influenciar no plantio e na fisiologia da planta através do fotoperíodo, ou seja, períodos com mais sol, com mais chuva, mais quentes e mais frios.
Para o manejo do sistema a busca é por não usar insumos químicos, nem pesticidas, nem herbicidas, como já disse anteriormente, trabalhar de acordo com as leis naturais da vida. E por falar em vida, é preciso se atentar com a maturação dos frutos e das folhas, orgânicas e agroecológicas, para não acabar perdendo parte da produção, parte de buscar uma produção e alimentação saudável é ser “anti desperdício”. E sempre que possível, a gente visa reutilizar a matéria orgânica produzida no sistema, para trazer mais vida pra ele e pra que a produção seja cada vez mais circular e sustentável.
A revolução é agroflorestal!
Algumas páginas que eu recomendo pra quem tiver interesse em buscar mais informações sobre essa temática estão disponíveis em >
https://instagram.com/saojoseagrofloresta?igshid=YmMyMTA2M2Y=. O Sítio São José fica situado em Irará e tem investido em sistemas Agroflorestais focados em horticultura e na realização de Cursos e vivências presenciais, além disso, o pessoal responsável pelo sítio posta muitos conteúdos interessantes sobre a implementação dos Sistemas Agroflorestais e sobre o desenvolvimento desses sistemas.
https://instagram.com/sitioimbassai?igshid=YmMyMTA2M2Y=. o Sítio Imbassaí é um local em que é possível se ter um contato bastante direto e genuíno com a natureza, onde há hospedagem ecológica, realização de cursos de agroecologia e vivências e rituais indígenas, nessa página, também há bastante criação de conteúdo sobre essa temática tão linda que são os Sistemas Agroflorestais, além de muitas informações sobre as comunidades indígenas que interagem com o sítio e os seus rituais.
Alguns vídeos que dialogam com essa temática e que eu tive a oportunidade de estar na equipe de produção são os do Canal da Feira Agroecológica da Ufba, disponíveis em:
https://www.youtube.com/watch?v=fm4j0wdmiig&ab_channel=FeiraAgroecol%C3%B3gicaUFBA. Conta a história da agricultura.
https://www.youtube.com/watch?v=Vx4M0bUzSYA&ab_channel=FeiraAgroecol%C3%B3gicaUFBA. Fala sobre a alimentação saudável.
https://www.youtube.com/watch?v=qV-k1WQoY_s&ab_channel=FeiraAgroecol%C3%B3gicaUFBA. Aborda sobre os incentivos aos pequenos produtores.
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