Um breve histórico
Os insetos são um grupo de invertebrados que estão intimamente relacionados com a polinização do nosso planeta. Mas fora isso, você já pensou em como esses animais podem auxiliar na resolução de crimes? A utilização dos insetos como ferramenta na perícia forense, recebe o nome de entomologia forense.
Nas últimas décadas, a perícia forense vem ganhando cada vez mais notoriedade, devido a séries como Dexter, Criminal Mindse uma das mais conhecidas como Crime Scene Investigation.
Devido a isso, os cenários da investigação forense vêm despertando cada vez mais curiosidade na sociedade. Embora este seja um tema muito curioso, os conhecimentos na área de entomologia advêm a muitos séculos (Pujol-Luz e col. 2008).
Em registros de um manual de Medicina Legal Chinês, no século XIII, ocorreu o primeiro registro da utilização de insetos para a resolução de um caso de homicídio. Em um caso de homicídio, os “peritos” observaram todas as foices de fazendeiros e notaram que apenas em uma delas havia uma concentração maior de moscas. As moscas pousavam ali, devido aos restos de sangue presente na foice, aquela região era propicia para a deposição de ovos. Com isso, concluíram que o assassino seria o dono da foice com restos de sangue (Pujol-Luz e col. 2008 p. 486 apud Benecke, 2001).
No Brasil, Oscar Freire, um médico soteropolitano, deu o primeiro passo para o desenvolvimento da entomologia forense em nosso país. Suas publicações desde 1908 até 1943 (postumamente), serviram de embasamento para o estudo dessa área em solo brasileiro (Santana e col. 2012).
(Oscar Freire, 1882-1923)
Aplicando os conhecimentos
Mas como os insetos podem ajudar a identificar um cadáver ou estimar o tempo médio de um corpo em decomposição?
Os insetos necrófagos são aqueles que se alimentam dos tecidos em decomposição, então, para a identificação de um cadáver, será necessário extrair os tecidos consumidos no interior do trato digestório desses animais e posteriormente realizar um exame de DNA. O DNA extraído deve ser comparado junto ao DNA dos supostos familiares, para saber se o cadáver é da suposta família (Santana e col. 2012 p. 33 apud Oliveira-Costa, 2003, p. 46).
Já no caso para a estimativa do tempo de morte, mais conhecido como o intervalo post-mortem (IPM), se torna algo mais complexo, pois esse fator demanda de vários aspectos como os insetos colonizadores, flora local, solo e inclusive as roupas e acessórios presentes no corpo. Entretanto, alguns estudos realizados para aferir o IPM, demonstram que nos primeiros quatro a cinco dias é quando ocorre o aparecimento de larvas das moscas (Santana e col. 2012 p. 33 apud Oliveira-Costa, 2003, p. 46); (Ferreira, 2012).
Outras áreas da entomologia forense
Além da área médico-legal, a entomologia forense ainda pode auxiliar outros âmbitos judiciais como: Urbana e Produtos armazenados.
No âmbito urbano, está relacionada com questões cíveis envolvimento insetos em bens culturais, estruturas ou até mesmo imóveis. Por exemplo, o caso de um comprador que, em pouco tempo, tem sua casa infestada por cupins. Ao utilizar a entomologia forense os peritos descobrem que o imóvel já foi vendido com os insetos e o vendedor deverá ser responsabilizado pelo prejuízo (Santana e col. 2012 p. 32 apud Lord e Stevesson, 1986).
No segundo caso, um comerciante que fez uma compra de produtos estocados, ao alegar que a os matérias estão infestados, ele pode exigir a compensação do vendedor, caso seja confirmado que a infestação ocorreu antes da compra (Santana e col. 2012 p. 32 apud Lord e Stevesson, 1986).
Portanto, percebemos que a entomologia Forense, apesar de ter seu início desde o século XIII, é uma área ramo das ciências biológicas que vem crescendo cada vez mais, justamente devido ao seu auxílio na resolução de crimes. Porem se faz necessário a interação das pesquisas acadêmicas com a realidade da polícia judiciária.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PUJOL-LUZ, et al. 2008. Cem anos da Entomologia Forense no Brasil (1908-2008). Revista Brasileira de Entomologia 52(4): 485-492, dezembro 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbent/a/xkDDPfTcsxjCjkkh7J5yChB/?format=pdf&lang=pt
SANTANA et al. 2012. ENTOMOLOGIA FORENSE: INSETOS AUXILIANDO A LEI. Revista Ceciliana Dez 4(2): 31-34, 2012 ISSN 2175-7224 - © 2011/2012 - Universidade Santa Cecília. Disponível em: https://sites.unisanta.br/revistaceciliana/edicao_08/5.pdf
FERREIRA, M. T. S. 2012. Para lá da morte: Estudo taxonômico da decomposição cadavérica e da degradação óssea e implicações na estimativa do intervalo pós-morte. Tese de Doutoramento para a obtenção do grau de Doutor em Antropologia Forense, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra. Disponível em: https://eg.uc.pt/handle/10316/21839
REFERÊNCIAS DAS IMAGENS:
FIGURA 01: Disponível em: http://ecologiaurbanacwb.blogspot.com/2011/10/entomologia-forense-e-sua-relacao-com.html
FIGURA 02: Disponível em: https://www.adorocinema.com/series/serie-82/
FIGURA 03: Disponível em: http://medicosilustresdabahia.blogspot.com/2011/02/274ii-oscar-freire-de-carvalho.html
FIGURA 04: Disponível em: https://emsinapse.wordpress.com/2018/09/14/areas-biologicas-entomologia-forense-o-que-e/
FIGURA 05: Disponível em: https://alociencia.com.br/podcast/120-um-inseto-me-disse-entomologia-forense/
FIGURA 06: Disponível em: http://biomed-atual.blogspot.com/2015/08/o-papel-da-entomologia-forense-na.html
Organizado por: Alex Seixas
Interessante demais o texto! Sabia muito pouco sobre esta área entomologia forense. Valeu Alex!