Quem imaginaria em algum momento que uma condição, potencialmente fatal, pode ser uma grande aliada contra uma doença ainda mais mortal?
A malária é uma doença comum em áreas tropicais do globo, concentrando a maioria dos seus casos no continente africano e no sul da Ásia, entretanto não se restringindo a essas regiões, tendo inclusive registros frequentes nas áreas amazônicas brasileiras.
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Causada por um parasita do gênero Plasmodium e transmitido pela picada de mosquitos do gênero Anopheles a doença pode provocar sintomas variados, desde febre, sudorese, cefaleia, até em casos mais graves, levar ao coma e a morte.
É uma doença potencialmente mortal e muito perigosa, com taxa de letalidade podendo atingir até 20% dos infectados, entretanto começou-se a observar que em algumas regiões de predomínio da Malária, certos grupos de indivíduos apresentavam uma maior resistência a doença do que aqueles que moravam em outras partes do planeta, isso levou a uma grande questionamento sobre o que causava essa “resistência” e foi observado que nessas populações, muitas pessoas possuíam em seu DNA, o gene causador de outra doença potencialmente mortal, a anemia falciforme.
A doença falciforme é uma doença genética, que pode ser transmitida de pais para filho, ocorrendo quase que em sua totalidade na população negra, e que tem como principal característica a alteração na forma dos seus glóbulos vermelhos, que adquirem o formato de uma foice, daí o nome da doença.
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Responsável pelo transporte de oxigênio no sangue, essa alteração na estrutura causa uma dificuldade nessa função, na ausência de oxigenação como deveria ocorrer, é comum que os portadores dessa doença sintam fortes dores nos membros, na maioria dos casos levando a morte.
Nesse momento você deve estar se perguntando: Até aí tudo, mas o que uma doença tem a ver com a outra afinal de conta?
Aí que está, o grande X da questão, a anemia falciforme é uma doença homozigota recessiva, ou seja, ela só vai se manifestar caso tanto pai quanto a mãe possuam o gene responsável por ela e o transmita para os filhos. Em situações de heterozigose, quando apenas um dos genes é transmitido recebe o nome de traço falciforme, como pode ser observado na imagem abaixo.
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“Entendi, entendi...Mas é a Malária nessa história toda?!”
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Calma que já estou chegando nela. Quando foi percebido que as duas doenças tinham uma distribuição muito similar pelo planeta, começaram a ligar os pontos e perceberam que uma coisa estava ligada a outra.
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É sabido que os sintomas graves da malária ocorrem principalmente quando o protozoário atinge o sistema nervoso e para que isso ocorra, ele precisa ser transportado pelo sangue, principalmente nos glóbulos vermelhos (ou hemácias).
Tenho certeza que nesse momento você já entendeu tudo!!!
As hemácias em forma de foice não são capazes de transportar o protozoário de forma eficaz, fazendo com que eles fiquem restritos ao local onde o inseto picou e acabem sendo degradados pelo sistema imunológico.
Sendo assim, chegou-se à conclusão que a heterozigose da anemia falciforme vem sofrendo a milhares de anos, pressão seletiva como uma defesa contra o parasita causador da malária e claramente, tem conseguido bons resultados nesse aspecto.
Para saber um pouco sobre ANEMIA FALCIFORME acessem o link: https://www.instagram.com/p/CPWEQfxFSOJ/
Organizado por: William J. J. Silva
Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Biblioteca virtual de saúde. Anemia falciforme. Brasilia, 2021. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/dicas-em-saude/437-anemia-falciforme>
DI NUZZO, Dayana VP; FONSECA, Silvana F. Anemia falciforme e infecções. Jornal de Pediatria, v. 80, n. 5, p. 347-354, 2004. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0021-75572004000600004>
GALINDO, Eduardo da Silva et al. A contribuição da anemia falciforme como fator de proteção da malária. 2018. Disponível em: <http://repositorio.asces.edu.br/handle/123456789/1746>
HOKAMA, Newton et al. Interferência da malária na fisiologia e na fisiopatologia do eritrócito: parte 2: fisiopatologia da malária, da anemia falciforme e suas inter-relações. J. bras. med, p. 40-48, 2002.
MACHADO, Patrícia et al. A contribuição dos polimorfismos humanos do eritrócito na proteção contra a malária. Revista Pan-Amazônica de Saúde, v. 1, n. 4, p. 85-96, 2010. Disponível em: <http://scielo.iec.gov.br/pdf/rpas/v1n4/v1n4a13.pdf/>
TORRES, Felipe R.; BONINI-DOMINGOS, Claudia R. Hemoglobinas humanas: hipótese malária ou efeito materno?. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 27, n. 1, p. 53-60, 2005. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rbhh/a/VnbvzdnFdpSwTTjFgn5g9xx/>
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